terça-feira, 8 de dezembro de 2009

O Todo e o Ser de Cada Um.



Escolhi esta foto por ter sido tirada de uma maneira espontânea e de uma forma um tanto inusitada. Em agosto passado, fui visitar o museu do futebol em São Paulo, chegando lá o museu estava fechado, ao lado havia uma multidão em frente aos portões do Pacaembu. Como a curiosidade é que move o mundo, fui saber o que acontecia. Era jogo do Corinthians e Avaí. Como boa corinthiana não restou dúvidas, entrei para ver o jogo. Era minha primeira vez num estádio de futebol.
Ao realizar a pesquisar para este trabalho, bati os olhos nesta foto e imediatamente me lembrei do texto “O homem na Multidão”. ´Naquele momento particular do entar¬decer, eu nunca me encontrara em situação similar, e, por isso, o mar tumultuoso de cabeças humanas enchia-me de uma emoção deliciosamente inédita.´. Aquela multidão, feita de cada único ser, com movimentos sincronizados e ao mesmo tempo desgarrados dos demais, movia o estádio, sem sair do lugar, para um tempo único e singular. No começo somente as cabeças, depois de familiarizada com o ambiente, puder olhar os rostos, os gestos individuais, os gritos, as expressões de raiva. Ampliando o olhar para o estádio era como se as colunas vazadas pudessem nos dar os limites de onde podíamos chegar, mas as construções mostram que o limite é mais além. [...]´altos e antigos prédios,[...] dispostos em tantas e tão caprichosas direções.”
Vi neste momento da foto a necessidade do outro , para formar a massa, para dar visibilidade, para ser ouvido. O homem um ser social e de relações, se recusa a estar só, no entanto no seu intimo, cada ser necessita da sua individualidade, de ser apenas um homem na multidão. Eu era um ser na multidão. A mulher na multidão.
Posso afirmar que na prática da pedagogia, a arte de trocar saberes e conhecimentos, deve-se sempre entender o tempo de cada um dentro de um todo. A pedagogia da convivência.

4 comentários:

  1. Esta foto me faz pensar nas diferentes maneiras de olhar que cada pessoa tem de ver as coisas que a rodeia! Mas neste momento (do jogo) todos os olhares se tornam os mesmos, mas com interpretações diferentes!! Todas as pessoas estão lá pelo mesmo motivo: ver o jogo de futebol! E quando terminar o jogo, se perguntar sobre algum lance, vai ter gente que vai dizer que não viu...Interessante, não?

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  2. nossa isabel!
    é isso que eu penso muito quando vou ao estádio... nessa multidão que esta lá pra ver a bola...mas que às vezes o olhar se perde no vendedor de pipoca e que às vezes se desconcentra pra ver a alegria de um torcedor... e toda a energia que tem nesse lugar...
    são milhares de olhares para um jogo, e não um só traduzido para a televisão...
    por isso que é tão diferente assistir o jogo no estadio!

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  3. Nunca fui ao estádio, mas a foto e sua análise são tão interessantes que fiquei com vontade de ser MAIS UMA MULHER NA MULTIDÃO!

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  4. O conto de Poe traça um comentário sobre a tensão entre a necessidade de classificar das pessoas e a impossibilidade de enquadrar cada ser humano dentro de uma classificação: o homem da multidão é uma contradição, pois só existe se está nela, que ao mesmo tempo o faz desaparecer. No início do livro "Massa e Poder", de Elias Canetti, o autor tem um interessante texto sobre "a inversão do temor do contato", onde aponta o porquê de nós, tão afeitos à nossa individualidade - sobretudo a corporal, nos agregamos a certas multidões para sentirmos o poder inerente às massas, um poder que nos extrapola muito e que, no entanto, depende de nós para existir. A existência na fotografia tanto das pessoas em primeiro plano quanto da massa no plano de fundo, realiza em imagem esta mesma tensão apresentada por Poe e Canetti: a ambiguidade do poder de ser único e ao mesmo tempo ser parte de um todo mais amplo.

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