segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Trabalho Final Daniel


 Fotos no Espelho - Um Ensaio
A fotografia de uma pessoa é uma violência contra esta. Pode-se dizer isso porque a identidade de alguém é construída, inclusive, por imagens. Ora, como registrar um instante na vida de alguém, captar-lhe a imagem, sem alterar a noção que as pessoas que virem esta foto têm da fotografada? E, pior ainda, como não espantar a pessoa fotografada, com uma visão de si mesma que não lhe pertence, que ela nunca teve ou teria sobre si?

Estas noções, ainda que não sejam explicitamente conhecidas por todos, vêm aparecendo cada vez mais no universo imagético contemporâneo, através das "imagens pelo espelho". A foto que acompanha o texto traz um ótimo exemplo de pessoa que, desejando fotografar-se sem violar a noção de identidade tida sobre si, busca o recurso do espelho para ver e registrar aquilo que já viu antes.

Podemos ver claramente que o olho do personagem está voltado para a câmera. Com isso, ao apertar o botão de disparo da máquina, o, agora, fotógrafo eternizou apenas aquilo que via sobre si mesmo, voltando a ser personagem. Assim, através da construção de um fotógrafo/personagem, temos uma imagem na qual não há nada que possamos ver além daquilo que já foi visto e aprovado por seu idealizador/objeto. É uma imagem que não desmonta a noção de identidade que o personagem tem montada sobre si, já que este, provavelmente, olha-se no espelho rotineiramente.

Além de dizermos que o fotógrafo/personagem buscou manter uma identidade perante si, também podemos apontar qual identidade é essa. Perceba os elementos que encontramos na imagem: a máquina Canon, de uso doméstico; os fones de ouvido; o quadrinho na parede ao fundo; a moldura do espelho; a parede que claramente pertence a um banheiro; e outros menores em clareza e, por isso, significado. Todos eles têm a sua intenção de estarem lá. A máquina de uso doméstico demonstra que o personagem ali assumido não é profissional em fotos. Os fones estão sendo usados com o intuito de mostrar um possível interesse por música, uma contemporaneidade do personagem, que possui equipamentos condizentes com a juventude atual. O quadrinho na parede, e a moldura do espelho, buscam explicitar o cuidado, o capricho que o personagem tem na decoração de seu ambiente. Finalmente, a parede de banheiro também deixa algo claro: o personagem gosta de ver-se no espelho, mas não é preocupado com a aparência a ponto de ter espelhos no quarto ou em outro ambiente da casa. Só no banheiro.

Assim, podemos concluir que esta imagem busca educar aqueles que a olham de forma a demonstrar qual é a forma, a identidade, que o personagem/fotógrafo realmente imagina ter. Com isso, trata-se de uma foto menos invasiva, do ponto de vista da estrutura de identidade tida pelo personagem, insisto, já que foi clicada de acordo com aquilo que este costuma ver e permite mostrar-se.


A foto foi encontrada em http://www.flickr.com/photos/robert-wright/3427564382/

2 comentários:

  1. sempre considerei fotos de espelhos uma coisa banal, tal como uma auto-retratação vazia...
    a partir de agora vou vê-las com outros olhos!!

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  2. Pois penso que é exatamente a banalidade a força desta imagem, é a ela que a fotografia remete. Esta foto está a nos dizer: "olhem como sou no cotidiano" e por isto é fundamental a presença de inúmeros ícones de um certo tipo de vida privada cotidiana (desde os quadrinhos no banheiro e o fone de ouvidos, até a câmera fotográfica comum e a iluminação feita por luminárias modernas) e também por um certo ar de despreocupação consigo mesmo existente na barba por fazer. Em resumo, estes elementos todos buscam dizer/seduzir os que vêem esta imagem como sendo realista, ou seja, como mostrando a pessoa tal qual ela é e não maquiada, pós-produzida, editada, como é facilmente possível hoje em dia. Ou seja, a pedagogia desta imagem é retirá-la da possibilidade de embelezamento pensado e localizá-la com mais força dentro do sentido de "imagem capturada por amador" e, portanto, mais crível e confiável.

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