terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Trabalho final



Selecionei para o trabalho final a imagem “Behind the Gare Saint-Lazare”, 1932, de Henri Cartier-Bresson, fotógrafo francês. Ao observar a fotografia, além da qualidade estética, percebi que o reflexo na água marca uma divisão na imagem: aparece apenas aquilo que está do lado de dentro das grades, do ponto de vista do fotógrafo. As três figuras do outro lado das grades e a construção do plano de fundo estão excluídas do reflexo. Ficou em mim então a dúvida: seria uma escolha do artista deixar apenas uma parte da paisagem no reflexo ou seria obra do acaso na fotografia? Teria ele recursos, já em 1932, para manipular a imagem e apagar parte do reflexo? Ou a angulação escolhida para capturar a imagem fez esta exclusão devido à distância dos objetos do plano de fundo? E o título da imagem? A que interpretação nos induziria? O que está atrás da Gare Saint-Lazare não seria talvez exatamente a imagem refletida?

São infinitas as possibilidades e os questionamentos sobre a intrigante imagem de Bresson, o que evidencia o caráter múltiplo da fotografia, que nos apresenta diversas realidades: “Uma foto pode estar nos dizendo: isso também existe. E isso. E isso. (E tudo isso é “humano”.)” (SONTAG, 2008, p.140).

O fundo branco do reflexo, em contraste ao escuro da parte de cima da imagem é que nos permite enxergar com detalhes o outro lado do portão: a pessoa parada, a bicicleta, a forma do homem que corre e salta sobre a água.

O fotógrafo capta também um instante inusitado ao nosso olhar, pois paralisa o salto do homem no ar, antes de pisar o chão novamente, porém a silhueta do homem ganha uma visibilidade muito maior no reflexo do chão, onde há mais contraste entre o branco e preto. O salto teria acontecido em um instante temporal, que a fotografia permitiu que se materializasse e fosse visto, um instante que saiu do imaginário e passa a existir: “A fotografia, em função de sua pretensa “objetividade”, se prestou para esse projeto na medida em que tornou reais as fantasias do imaginário.” (KOSSOY, p.83).

São estas as minhas considerações sobre a imagem que escolhi, baseadas nos estudos da bibliografia e das discussões em aula sobre como as imagens podem nos educar. Pensar como as imagens foram construídas e pensadas, manipuladas pelo tanto pelo próprio olhar do autor, ou tecnicamente, a fim de gerar alguma indagação, ou proporcionar uma leitura dirigida (KOSSOY, p.82) ao espectador.

3 comentários:

  1. Esta foto realmente é curiosa, o movimento das sombras na água, o reflexo somente daquilo que está entre as grades.
    Uma imagem que leva a várias reflexões, dentre elas, acredito que a imagem teve um propósito e uma escolha de ângulo, devido a sua perfeição. Porém como não se pode saber a verdadeira reação e atitude do autor da imagem, podemos acreditar que tal perfeição foi um 'golpe de sorte!'.

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  2. É linda a capacidade de Bresson de captar o momento do olhar!
    O instante parece ser uma característica muito forte em seus trabalhos... acredito que ele tenha esperado que as personagens de sua foto relizassem a pose que estava em seu pensamento...assim todos os elementos da foto se encaixem perfeitamente!

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  3. É interessante notar o quanto uma imagem está sempre no presente, ainda que tenha existido também no passado. Digo isto porque as perguntas que são feitas ao final do primeiro parágrafo são feitas a partir da cultura e das possibilidades técnicas contemporâneas e estas perguntas redefinem a imagem, a tornam outra para si própria. Bresson é conhecido por ser um defensor do entendimento da fotografia como um instante único, mágico, capturado pelo olhar atento do fotógrafo que disparou a câmera no momento exato. Mas proponho pensar esta magia na imagem em si e não na situação social/ambiental figurada. Devido ao contraste alcançado pelo ângulo em que a foto foi tirada, a motorcicleta está mesmo é de cabeça para baixo, pois é mais visível assim que do outro modo, o mesmo ocorrendo com o homem próximo a ela e mesmo para o homem que está quase a finalizar o salto sobre a água, salto aliás que parece irá fazê-lo mergulhar em uma superfície profunda, pois não conseguimos saber qual a profundidade do local onde ele pisará... apenas a intuímos... e portanto permanece em suspenso se ele irá afundar ao finalizar o salto/passo ou continuará a seguir seu caminho.

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