quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Imagens da cidade de Paulínia - Sara



Caminhando pela avenida central da cidade de Paulínia, curtindo a experiência do “flâneur”, pude fotografar alguns cenários urbanos e resgatar muitas memórias de infância! Fui também imaginando como tudo por ali poderia estar muito diferente, se fossem realizados os projetos da Prefeitura de ”revitalização do centro”... Vou contar para vocês sobre este "drama urbano"!!
A Igreja São Bento (foto acima) é a mais antiga construção da cidade (1903), sendo um marco histórico para o município e também, alguns casarões próximos, tombados como patrimônio público. A administração pública anterior, conhecida por idealizar e, muitas vezes concretizar “obras faraônicas” na cidade, planejou a construção de um "manto de cristal" em forma de pirâmide asteca que cobriria o centro histórico da cidade, incluindo o Museu Municipal, a Casa do Padre, a Casa da Banda e a Igreja São Bento (todos os prédios que estiverem em um perímetro de um quarteirão e meio da igreja serão encobertos). Pelo projeto, a pirâmide será toda coberta por vidros, terá cerca de 20 metros de altura (o equivalente a um prédio de oito andares) e uma área de projeção no solo de 4,1 mil metros. A obra prevê ainda passarelas, mezaninos internos e um mirante no topo da edificação, que terá acesso por rampas e elevadores. (imagem do primeiro projeto)

A obra orçada em R$ 120 milhões foi iniciada com a derrubada parcial de dois casarões: a casa do primeiro farmacêutico da cidade e um barracão centenário, e geraram protestos por parte de moradores da cidade, políticos, religiosos e de uma ONG, a AMA - Paulínia que moveu uma ação na justiça, propondo a liminar que paralisou a obra. A prefeitura ainda recorre da decisão e também realizou algumas alterações no projeto: a pirâmide não vai mais cobrir a Igreja de São Bento, só os outros três prédios considerados históricos. Não assustem, apenas assistam ao vídeo da maquete eletrônica do projeto:
http://paulinia.net/2007/manto-de-cristal

Pensar a cidade: imagens reais e virtuais

Contemplar a cidade que moro, capturar e ser capturada nas paisagens e memórias urbanas revelam minha escolha. Lembrei-me dos documentários “Paisagem urbana” e “Fpolis Era” que retratam a história, o cenário urbano de Florianóplis, bem como o drama urbano e a resistência da população em relação ao aterro. Em Paulínia, o ex-prefeito alegava que “o manto de cristal é necessário para revitalizar o centro da cidade e, dessa forma, alavancar o comércio e o turismo, como também, resguardar as construções históricas da chuva, da corrosão, do ar poluído e danos acidentais.” Dá para entender? Será que a "revitalização urbana", não faz parte do processo histórico de higienização física e social das cidades, como discutimos em sala?
No vídeo, imagens produzidas, obra grandiosa, música contínua, legendas, remodelação urbana e um único personagem identificado na última cena: o busto de seu idealizador... Não lembra “O triunfo da vontade”?

2 comentários:

  1. A utilização de imagens, neste caso um vídeo, para "dar a ver" o futuro tem sido cada vez mais comum, de modo a seduzir as pessoas a se engajarem na construção deste futuro desejado (na verdade, são as imagens que estão a gestar o desejo em nós). Muito interessante a relação que você fez entre o projeto "manto de cristal" com perspectivas políticas fascistas. Amplio sua proposta, chamando a atenção para a palavra manto (que traz para o projeto a cultura cristã), a forma de pirâmide pré-colombiana (que traz para o projeto a proposta de reconstrução de nossas origens, algo bem semelhante ao projeto fascista alemão realizado nas imagens do "Triunfo da vontade") e por fim a retórica ambiental de proteção (que retira tudo da ação do tempo, e ao invés de proteger, torna ruína as próprias construções).

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