“Os fotógrafos são especialmente admirados se revelam verdades ocultas sobre si mesmos ou conflitos sociais que não foram plenamente cobertos pela imprensa, em sociedades ao mesmo tempo próximas e distantes de onde vivem os espectadores”. (Sontag, p. 138)
O que vemos nesta foto?
Uma senhora, muitas rugas, um calendário, bolinhas de natal, uma parede envelhecida, um olhar assustado.
Eu vejo também o tempo, o medo dos anos passando ou a surpresa de perceber que o tempo já passou, a incerteza, a simplicidade, o calendário anunciando o fim de mais um tempo, a vontade de ter mais um natal.
“ A fotografia é antes de tudo um modo de ver. Não é visão em si mesma” (Sontag, 2008, p. 137)
A imagem, segundo Pasolini, é um signo lingüístico, e por tanto sempre nos remete a alguma coisa.
No caso da foto anexa, descrevi algumas das inúmeras possibilidades de idéias, de situações que poderiam estar ocorrendo no contexto da fotografia, ou do que o fotógrafo queria passar.
Escolhi esta fotografia, pela quantidade de significados e de emoções que ela me remeteu. Fiquei me perguntando, o que esta senhora esta pensando com estes olhos assustados ou surpresos?
Lembrei me de meus avós, e dos questionamentos ao final de cada ano, por que para eles o fim esta mais próximo.
“Fotos são detalhes, por tanto, fotos parecem com a vida. Ser moderno é viver extasiado pela autonomia selvagem do detalhe” (Sontag, p. 139)
A imagem educa ao instigar o leitor a participar de seu contexto, ao dar significado aos fatos, ao convidar o leitor a participar da história.
A educação pela imagem se dá quando vemos além do que nos esta dado, além dos detalhes e da própria imagem.
Esta imagem, a meu ver, nos educa ao nos forçar a pensarmos nas memórias, NA VELHICE , no susto que temos ao nos darmos conta que o tempo passou, nos sentimentos muitas vezes desconhecidos.
Excelente sua escolha e a explicação que dá sobre a imagem. Concordo com você quando diz sobre o medo que temos do tempo passar e nos tornarmos idosos.
ResponderExcluirA centralização do olhar da senhora e a iluminação nos objetos (bolas de natal e calendário) fazem dessa fotografia uma forte mensagem em relação ao tempo, e como nessa época do ano ficamos suscetíveis à ideia de que a vida vai passando e todo ano a mesma história: sempre nos cobramos mais pela ideia do fim...de que essa é a hora de mudanças e pedidos. Mas, para qualquer pessoa do planeta que não siga o calendário cristão, não faz nenhum sentido.
ResponderExcluirDo lado de cá do Ocidente, uma imagem como essa me causa no mínimo armagura.
Me fez lembrar a música de Chico Buarque "Anos dourados":
Parece que dizes, te amo Maria
Na fotografia estamos felizes
Te ligo afobado e deixo confissões no gravador
Vai ser engraçado se tens um novo amor
Me vejo ao teu lado
Te amo, não lembro
Parece dezembro de um ano dourado
Parece bolero, te quero, te quero
Dizer que não quero
Teus beijos nunca mais
É mesmo uma fotografia? Pelo fundo de cena e pela textura e cores, notadamente das mãos da personagem, me pareceu mais uma pintura naturalista que uma foto. Mas seja como for, o que parece estar tematizado aqui é um tempo que finda. Pelo detalhe do padrão de desenho da blusa, que me remeteu aos padrões dos índios americanos, me pareceu que o tempo que finda é o da cultura indígena americana, aquela que foi submetida à cultura cristã, aqui representada pelas bolas de natal que são seguras pela velha senhora com se seguram os terços, no entanto, ela olha assustada para seu próprio gesto ou interlocutor, como se a dizer: o que fazer com isto?
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